domingo, 11 de março de 2012

CASTRO ALVES, O POETA DA ESCRAVIDÃO


O baiano Castro Alves, que morreu no dia 06 de julho de 1871, foi o poeta da luta contra a escravidão no Brasil. Paradoxalmente só em 1883, doze anos após a sua morte, é que foi publicado o livro “Os Escravos”, reunindo as composições anti-escravagistas do poeta, entre elas, os famosos poemas abolicionistas “O Navio Negreiro” e “Vozes d’África”. Ele não foi o primeiro poeta romântico a tratar do tema da escravidão. Antes dele, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e outros abordaram a questão. No entanto, nenhum poeta foi mais veemente e engajado à causa social e humanitária do abolicionismo como ele. Castro Alves procurou aprofundar as implicações humanas da escravatura adequando a sua eloqüência condoreira à luta abolicionista. Retrata o escravo de modo romanticamente trágico para despertar a sociedade, habituada a três séculos de escravidão, para o que há de mais desumano neste regime. O maior exemplo deste retrato está em “A Cachoeira de Paulo Afonso”, longo poema narrativo, escrito em 1870, que conta a história de amor de dois escravos, Lucas e Maria, pintada com fortes cores dramáticas.

Estilo romântico
O romântico poeta baiano foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870, denominado “condoreiro” por Capistrano de Abreu (1853-1927). É caracterizado por uma poesia retórica, repleta de hipérboles e antíteses, em que se destacam os temas sociais e políticos, principalmente a defesa da abolição da escravatura e a apologia da República.
Os poetas condoreiros foram influenciados diretamente pela poesia social de Vitor Hugo – o Condoreirismo é o hugoanismo brasileiro. De teor declamativo e pendor social, um de seus símbolos mais freqüentes é a imagem do condor dos Andes, pássaro que representa a liberdade da América, o que sugeriu a Capistrano de Abreu a denominação dada ao estilo.
Outros poetas, como Tobias Barreto (1839-1889), José Bonifácio, o Moço (1827-1886) e Pedro de Calasãs (1837-1874) cultivaram e defenderam o condoreirismo enquanto poesia de tese (científica), pública, política, rimando artigos de fundo de jornal, metrificando manifestos do abolicionismo e proclamações republicanas. (Fonte de pesquisa Casa do Bruxo, poesias).


Leia um trecho de “Navio Negreiro”


“…Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…”



EXERCÍCIOS

Interpretação e debate das idéias centrais do poema “Navio Negreiro”.

Responder, por escrito, as seguintes questões de interpretação do poema:

A- Faça o vocabulário das palavras desconhecidas.

B- Castro Alves inicia uma das estrofes do seu poema dizendo “Stamos em pleno mar, era um sonho dantesco...”. Explique o significado da expressão “sonho dantesco” utilizada pelo autor, relacionando-a à idéia central do poema.

C- Faça uma síntese das idéias centrais do poema, as quais permitem entender a visão que o poeta Castro Alves tinha a respeito do tráfico de escravos e da escravidão.

D- Antônio de Castro Alves viveu em um contexto no qual a escravidão era ainda um dos pilares da sociedade brasileira. Você diria que o autor expõe, através do poema, o que pensava a respeito da escravização de negros africanos no Brasil da sua época? Justifique sua resposta com argumentação clara e consistente.

Bom estudo!
Claudinha.

Um comentário: